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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O lado feminino do 25 de Abril

Por Jornal Porto Net (JPN)

Antes da Revolução a mulher tinha um papel secundário na sociedade. Só com o 25 de Abril é que conquistaria alguns dos direitos essenciais

Na história do nosso país, as mulheres ocuparam quase sempre um papel secundário, sendo apresentadas, na maioria das vezes, como figurantes nos grandes episódios da construção da nação.
Já em 1872, um dos mais influentes intelectuais da chamada “Geração de 70”, Ramalho Ortigão, escrevia assim sobre aquela que era a representação popular da mulher na altura: “Ela é na casa um ente subalterno e passivo, que se manda, que se força, que se espanca se desobedece (…). Ninguém a instrue, ninguém a distrae, ninguém procura tornar-lhe a existência doce e risonha, dar-lhe o nobre orgulho de ser amada, querida, necessária no mundo para mais alguma coisa do que lavar a casa, coser a roupa e cosinhar a comida”.
Esta concepção do século feminino vai vigorar durante muitos anos no nosso país, e tornar-se-á particularmente evidente durante o Estado Novo, um regime político de cariz conservador e tradicionalista, instaurado em Portugal em 1933. Durante quase meio século, ao sexo feminino eram associados os papéis de dona-de-casa, mãe e companheira, e pouco mais.
Neste panorama tão restritivo das liberdades da mulher, poucas foram aquelas que se atreveram a enfrentar o regime. Mas o JPN falou com duas resistentes que colocaram a luta pelos direitos do género feminino à frente de qualquer receio de sanções, e que ainda hoje continuam a lutar pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.
Ilda Figueiredo, deputada comunista no Parlamento Europeu, também tem sido uma defensora activa dos direitos das mulheres. Em entrevista ao JPN, contou-nos a sua experiência pessoal antes do 25 de Abril.
Esta situação difícil em que a mulher se encontrava duraria até ao dia 25 de Abril de 1974, altura em que a democracia chegou a Portugal. Mas se hoje a mulher já tem um papel mais activo na sociedade, parece que ainda nem tudo foi conseguido...

A Mulher depois de Abril

Por Jornal Porto Net (JPN)

Se o 25 de Abril trouxe grandes conquistas para as mulheres, há ainda alguns passos a dar no caminho para a igualdade

Já não existe desigualdade entre homens e mulheres? Não existem ainda representações tradicionais sobre o papel da mulher? Para a socióloga Isabel Dias, “estas questões não se dissiparam ainda completamente. Ainda vivemos um processo de mudança ao nível das mentalidades e na forma como a própria sociedade representa a mulher na família, na sociedade, na política ou noutro domínio qualquer”.
Esta professora de Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) diz que, “de facto, têm-se vindo a conquistar cada vez mais domínios de intervenção em que as mulheres têm uma presença activa e importante. Mas essa maior intervenção das mulheres na vida social, política e económica não significa que não subsistam representações tradicionais sobre o seu papel”. E adianta que aquilo a que se assiste hoje em dia é a uma “coexistência de representações modernistas sobre a mulher, com representações tradicionalistas”. Mas, “a mudança parece inevitável, pela presença e pela força com que elas estão instaladas no mercado de emprego e pelas consequências a nível familiar, económico e político que isso também tem para a própria sociedade”.
Actualmente, as mulheres constituem uma parte importante da mão-de-obra no mercado de trabalho e, inversamente ao que acontecia no passado, poucas são agora as que ficam em casa. No ano 2000, as mulheres já representavam 45,6% da população activa, o que, segundo Ana Mesquita, da União dos Sindicatos do Porto, é positivo para o género feminino: “As mulheres já representam quase 50% da força de trabalho nacional, têm uma participação activa, trabalham, e isso dá-lhes alguma independência e a capacidade de lutar contra as injustiças. E isso é uma grande vantagem. As mulheres queriam trabalhar e estão a trabalhar”.
A permanência dos estereótipos
No entanto, há sectores de actividade em que os estereótipos permanecem. Maria José Magalhães aponta o exemplo da política, em que as desigualdades são ainda bastante notórias: “As mulheres são uma minoria absolutamente ridícula em termos de ministros, cargos de ministério, secretarias de Estado. No Parlamento somos uma percentagem ridícula ainda. É muito difícil que uma mulher chegue a primeira candidata”.
Numa retrospectiva global da presença das mulheres no poder executivo e legislativo em Portugal desde Abril de 1974, verifica-se até que ponto têm estado quase sempre afastadas dos cargos mais elevados da hierarquia política: o Presidente da República foi sempre homem, o cargo de primeiro-ministro foi ocupado por 10 homens e apenas uma vez, em 1979, por uma mulher, Maria de Lurdes Pintassilgo (num Governo de iniciativa presidencial, durante um tempo determinado).
Maria José Magalhães aponta vários motivos que explicam esta sub-representação da mulher: “O problema não está só nos partidos. Estou a falar também nas representações sociais, na nossa ideologia. Somos muito mais vigilantes e intolerantes com as mulheres. Quando uma mulher vai para o poder, se é magra é porque é magra, se é gorda é porque é gorda, se é de direita é porque é de direita, se é de esquerda é porque é de esquerda, enfim, tem sempre defeitos. Há sempre muita coisa a apontar-lhe e raramente se valoriza o que elas são capazes de fazer. Espera-se que sejam perfeitas, como se fosse possível que os seres humanos pudessem ser perfeitos”.

O retrato da mulher durante o Estado Novo

Por: Jornal Porto Net (JPN)


Mãe, esposa e dona-de-casa. Eis o retrato da mulher nos anos que antecederam a revolução de Abril

Em Portugal, o Estado Novo esforçou-se por conservar a mulher no seu posto tradicional, como mãe, dona-de-casa e em quase tudo submissa ao marido. A Constituição de 1933 estabeleceu o princípio da Igualdade entre cidadãos perante a Lei, mas com algumas excepções. No documento constavam referências às "diferenças resultantes da sua [mulher] natureza e do bem da família". A mulher via-se, assim, relegada para um plano secundário na família e na sociedade em geral.
Luísa Neto é docente na Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Esta doutorada em Direitos Fundamentais explica qual a situação da mulher perante a Lei, durante a ditadura: "A constituição de 1933, que era a constituição que vigorava antes da Revolução de 25 de Abril de 1974, não estabelecia efectivamente o princípio da igualdade, pelo menos material. Formalmente estabelecia o princípio da igualdade, mas na prática ele não tinha grande vigência".
"A mulher praticamente não tinha direitos. Se se tratasse de uma mulher casada, os direitos eram exercidos pelo chefe de família. Aliás, a expressão do pai de família, que normalmente era benfiquista, deriva daí e do entendimento que era voz comum nessa altura", realça.
A lei portuguesa designava o marido como chefe de família, donde resultava uma série de incapacidades para a mulher casada, contrariamente à mulher solteira, que era considerada cidadã de plenos direitos: "a mulher não tinha direito de voto, a mulher não tinha possibilidade de exercer nenhum cargo político, e, mesmo em termos da família, a mulher não tinha os mesmos direitos na educação dos filhos", diz a magistrada.
Nesta altura, a Lei atribuía à mulher casada uma função específica: o governo doméstico, o que se traduzia pela imposição dos trabalhos domésticos como obrigação. E os poderes especiais do pai e da mãe em relação ao filho resultavam na sobrevalorização do pai e subalternidade da mãe, que, como recomendava a lei, apenas devia ser «ouvida».
Outro dos problemas que a mulher enfrentava na altura acontecia nas situações de reconstituição da família. O divórcio era proibido, devido ao acordo estabelecido com a Igreja Católica na Concordata de 1944, pelo que todas as crianças nascidas de uma nova relação, posterior ao primeiro casamento, eram consideradas ilegítimas. E havia duas alternativas no acto do registo: a mulher ou dava à criança o nome do marido anterior ou assumia o estatuto de "mãe incógnita". O que não podia era dar o seu nome e o do marido actual.
Trabalho só para homens
Também em relação ao trabalho, a mulher deparava frequentemente com grandes limitações. E o acesso a determinadas profissões era-lhe completamente vedado, como nos diz Luísa Neto: "no que diz respeito à questão profissional, a mulher não tinha direito de acesso a determinados lugares que se considerava que deviam ser ocupados por homens". A magistratura, a diplomacia e a política são apenas alguns dos exemplos de sectores profissionais a que a mulher não podia aceder.Maria José Magalhães é hoje assistente na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde concluiu o seu mestrado em Ciências da Educação. Realiza investigação sobre a questão do género e participa em alguns grupos e publicações feministas. Sobre o tema, escreveu o livro "Movimento Feminista e Educação - Portugal, décadas de 70 e 80". E descreve assim a situação da mulher naquela altura: "Antes do 25 de Abril, muitas mulheres não podiam casar com quem queriam, as mulheres casadas não podiam mexer na sua propriedade, as enfermeiras não podiam casar, as professoras não podiam casar com qualquer pessoa: tinham que pedir autorização para casar, e saía em Diário da República a autorização para ela casar com o senhor fulano de tal".
Além disso, naquela altura estava escrito em decreto-lei que uma professora só podia casar com um homem que tivesse um vencimento superior ao dela. "Uma mulher casada não podia ir para o estrangeiro sem autorização do marido, não podia trabalhar sem autorização do marido. O marido podia chegar a uma empresa ou estabelecimento público e dizer: eu não autorizo a minha esposa a trabalhar. E ela tinha que vir embora, tinha que ser despedida", contou ao JPN Maria José Magalhães.

A mulher nos provérbios e ditados populares

Se nos provérbios e na literatura se reflecte a cultura de um povo, através deles conhecemos também o papel da mulher na sociedade portuguesa
  • A casa é das mulheres e a rua é dos homens
  • A homem calado e a mulher barbada em tua casa não dês pousada
  • A homem ocioso e a mulher barbuda de longe os saúda
  • A mulher casada o marido lhe basta
  • À mulher e à vinha o homem dá alegria
  • A mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo
  • Do vinho e da mulher livre-se o homem, se puder
  • À mulher roca e ao marido espadaArruído arruído – deu a mulher ao marido
  • Cresce o outro bem batido como a mulher com bom marido
  • De nenhuma mulher há que fiar e de todo o homem há muito que temer
  • De onde és homem? De onde é a minha mulher
  • Do homem a praça, da mulher a casa
  • Em casa do mesquinho mais pode a mulher que o marido
  • Entre dez homens nove são mulheres
  • Entre marido e mulher nunca metas a colher
  • Formosura de mulher não enriquece o homem
  • Fumo, goteira e mulher faladora põem os homens da porta para fora
  • Homem com fala de mulher nem o diabo o quer
  • Homem de palha vale mais que mulher de ouro
  • Homem do mar mija na cama e diz que está a suar
  • Homem tendo mulher feia tem a fama segura
  • Homem velho e mulher nova, ou corno ou cova
  • Mulher de bigode pode mais que o homem
  • Não há nada como uma mulher para fazer do homem quanto quer
  • O muito fiar dos homens e o pouco fiar das mulheres deitam a casa a perder
  • O que o marido proíbe a mulher o quer
  • Traga-o o marido e guarde-o a mulher

O dia em que tudo mudou

Por: Jonalismo Porto Net (JPN)

O dia em que tudo mudou

Com a revolução de Abril, a igualdade de direitos entre homens e mulheres é finalmente consagrada na Constituição

“Foi espantoso o irromper das capacidades das mulheres. Foi tipo «garrafa de champanhe». Começámos a ver as mulheres nas comissões de moradores, a intervir nas ruas, nas fábricas, de uma maneira quase espontânea, porque realmente estava tudo guardado dentro das pessoas”, conta Maria José Ribeiro. Mas o que é que o 25 de Abril trouxe às mulheres? Esta defensora da igualdade responde: “O 25 de Abril trouxe a liberdade, mas às mulheres trouxe algo mais: trouxe os direitos que antes nos eram vedados”.
Com a revolução dos cravos é adoptada uma nova Constituição, que entraria em vigor no dia 2 de Abril de 1976, e que consagrou, no artigo 13º, o princípio da Igualdade: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a Lei” e “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”.
Ana Maria Mesquita, da União dos Sindicatos do Porto e do Movimento Democrático das Mulheres, considera que esta foi uma mudança fundamental na situação das mulheres portuguesas. “Costumo dizer que as mulheres portuguesas foram quem mais lucrou com o 25 de Abril porque, principalmente as mais velhas, viviam numa situação completamente sem direitos. Eram um ser humano de segunda categoria e o 25 de Abril coloca-as ao nível dos outros. O 25 de Abril foi absolutamente fundamental, porque as mulheres passaram a ser muito mais respeitadas”.
Com o princípio da Igualdade consagrado na Lei, as mulheres portuguesas vêm, então, alguns dos direitos que antes lhes eram vedados, serem finalmente reconhecidos. E algumas das portas que antes estavam trancadas a sete chaves, são finalmente abertas ao sexo feminino. Isabel Dias, socióloga, dá-nos alguns exemplos: “Após o 25 de Abril, é evidente que há enumeras mudanças. As mulheres estão em força no mercado de emprego. Basta ver que temos mais de 50% de mão-de-obra feminina no mercado de emprego. Assistimos à feminização do Ensino Superior. As mulheres, cada vez mais, têm acesso a cargos de chefia e de gestão e, portanto, isto parece uma tendência irreversível.”
Os números relativos ao Ensino Superior são os mais reveladores destas mudanças: embora a taxa de analfabetismo feminina seja, ainda, praticamente dupla da dos homens (26,9% face a 14,4%), a verdade é que o número de raparigas que frequentam hoje as Universidades portuguesas é já superior ao dos rapazes. Para além disso, as taxas de progressão ou conclusão, nos anos terminais dos ciclos são sempre superiores no caso das raparigas, superioridade que se verifica também ao nível do aproveitamento escolar, onde o género feminino sai mais uma vez a ganhar.

As mulheres na política

Reconhece-se que em Portugal existe um desfasamento decorrente do facto de a lei se ter antecipado antes de nós nos termos emancipado, enquanto país. O processo pelo qual esta igualdade entre sexos foi instituída em Portugal marca a nossa sociedade de modo muito paradoxal. A sociedade portuguesa surge como uma série de imagens caleidoscópicas que variam consoante a luz que sobre ela fazemos incidir.


Quando a olhamos de um certo prisma, que não se deixe ofuscar pela presença das progressões-alibi a igualdade perante a lei aparece como uma peneira destinada a velar um quotidiano feito de profundas discriminações, quer directas, quer indirectas. Discriminações na vida social, mas sobretudo no mundo do trabalho e da política. O que acontece é que esta igualdade ocorreu de um dia para o outro, "de cima para baixo", em vez de ter tido lugar lentamente e "de baixo para cima", em relação íntima e atenta aos efeitos de outras mudanças sociais importantes para a emancipação das mulheres, como os processos de urbanização e a individuação.


A fraca urbanização e a persistência de laços familiares fortes obstaculizam, de facto, a difusão de estilos de vida mais individualizados e mais propícios à emancipação das mulheres, embora possam também ser vistos como apoios logísticos indispensáveis à autonomia económica que as mulheres procuram assegurar nos nossos dias.

O baixo grau de urbanização é, na verdade, indiciador da fraca expressão que entre nós têm as classes médias, o que se traduz, por seu turno, por um lado, no elitismo que caracteriza o sistema de ensino que repele largas camadas de jovens e, por outro lado, no défice de posições intermédias nas estruturas do emprego e da qualificação. Dilacerada por desigualdades estruturais, que o tempo e a acção humana teimam em não apagar, a sociedade portuguesa caracteriza-se por um profundo dualismo social que mantém afastadas entre si as elites políticas e sociais e a população em geral.

O 25 de Abril de 1974 foi um dia que simbolizou mudança para o país mas, em grande parte, para as mulheres, que até essa data eram completamente desavalorizadas. Não tinham qualquer valor, nem usufruiam de quaiquer direitos. O 25 de Abril trouxe a liberdade, mas às mulheres trouxe algo mais: trouxe os direitos que antes lhes eram vedados!

Veja agora um vídeo com testemunhos de Ilda Figueiredo, deputada no parlamento Europeu e uma abordagem a algumas mulheres na política nacional:








Veja ainda:
* A mulher nos provérbios e ditados populares
* O retrato da mulher durante o Estado Novo
* A Mulher depois de Abril
* O lado feminino do 25 de Abril

Componente económico da situação que se vive na Grécia

De: Reuters

Dados divulgados na quinta-feira mostraram a gravidade da crise económica. O desemprego, especialmente acentuado entre jovens e mulheres, subiu de 7,1 por cento em Agosto para 7,4 por cento em Setembro, encerrando quatro anos de declínio. Os economistas dizem que a tendência é de a alta continuar, acompanhando a crise internacional.
"Nossa prioridade é ajudar os grupos sociais mais necessitados e proteger empregos", disse o primeiro-ministro Costas Karamanlis em Bruxelas, onde participa de uma cúpula da União Europeia.
No mercado de títulos, o "spread" (diferença) entre os papéis gregos e os títulos de referência alemães -- uma medida do risco percebido pelos investidores -- atingiu seu maior nível nesta década, quase 2 pontos percentuais.
"Não esperamos que os investidores esqueçam esta situação facilmente", disse David Keeble, director de pesquisa de renda fixa do banco Calyon.

Karamanlis e o líder da oposição, George Papandreou, fizeram apelos pelo fim da violência, que abalou dez cidades gregas e danificou centenas de milhões de euros em propriedades. Gregos também protestaram em Paris, Moscou, Berlim, Londres, Roma, Haia, Nova York, Itália e Chipre.
Embora o governo grego, que tem maioria de apenas um deputado no Parlamento, pareça ter conseguido controlar a crise mais imediata, sua aparente omissão diante dos distúrbios pode afectar ainda mais a sua popularidade, já bastante baixa. O Pasok (partido socialista, o maior da oposição) lidera as pesquisas de opinião e pediu antecipação das eleições.
"O cenário mais provável agora é que Karamanlis convoque eleições dentro de dois ou três meses", disse Georges Prevelakis, professor de Geopolítica da Universidade Sorbonne, em Paris.

Confrontos de jovens na Grécia espalham-se pela Europa

Agência Estado
Madrid
Os confrontos que têm ocorrido na Grécia nos últimos seis dias mostram sinais de estarem se espalhando pela Europa. Jovens enfurecidos destruíram lojas, atacaram bancos e jogaram garrafas contra policiais em protestos pequenos, porém violentos, hoje na Espanha e na Dinamarca. Na França, carros foram incendiados do lado de fora do consulado grego. Ontem, manifestantes reuniram-se em frente à embaixada grega em Roma. Alguns atacaram veículos da polícia italiana e viraram um carro. As autoridades dizem que os incidentes têm sido isolados até agora, mas reconhecem a preocupação de que as manifestações gregas - que começaram após a polícia ter matado um adolescente de 15 anos no sábado - possam se tornar uma desculpa para vários grupos fazerem manifestações contra as turbulências económicas e a falta de oportunidades de emprego. "O que está acontecendo na Grécia tende a provar que a extrema esquerda existe, ao contrário das dúvidas de alguns nas últimas semanas", disse porta-voz do Ministério do Interior da França, Gerard Gachet. "Por enquanto, não podemos ir mais adiante com nossas conclusões e dizer que há o perigo de contágio da situação grega na França. Tudo isso tem sido observado."Na medida em que a Europa cai em recessão, o desemprego sobe, particularmente entre os mais jovens. Mesmo antes da crise, os jovens europeus reclamavam da dificuldade em encontrar ocupações com bons salários, mesmo que tenham um diploma universitário, e muitos diziam se sentir deixados para trás enquanto o continente prosperava. Pelo menos um dos protestos parece ter sido organizado pela Internet, mostrando a rapidez com que uma mensagem pode ser disseminada. Um site que os manifestantes gregos tem usado para falar sobre suas reivindicações vem recebendo a simpatia de internautas em quase 20 países. "Nós estamos encorajando actos de não-violência aqui e no exterior", disse Konstantinos Sakkas, um manifestante de 23 anos da Politécnica de Atenas, de onde vieram muitos dos manifestantes. "O que tem acontecido no exterior são expressões de solidariedade espontânea com o que está acontecendo aqui."

Dinamarca e Espanha
Na Dinamarca, os manifestantes entraram em confronto com a polícia, no centro de Copenhaga na noite de ontem. Sessenta e três pessoas foram detidas e depois liberadas. Na Espanha, jovens atacaram bancos, lojas e a delegacia de polícia em manifestações diferentes em Madrid e Barcelona, também na noite de quarta-feira. Cada protesto reuniu cerca de 200 pessoas. Alguns dos manifestantes gritavam "policiais assassinos" e outros slogans. Onze pessoas, dentre elas uma jovem grega, foram presas durante as duas manifestações. Dois policiais ficaram levemente feridos. O jornal La Vanguardia, de Barcelona, disse que os protestos foram organizados pela Internet. Daniel Lostao, presidente do Conselho Jovem, entidade patrocinada pelo governo e que reúne várias organizações de jovens na Espanha, disse que esses grupos espanhóis enfrentam grandes desafios como elevação do desemprego, baixos salários e dificuldade em deixar as casas dos pais em razão da alta dos preços da moradia. Ainda assim, ele duvida que os protestos na Espanha possam aumentar. "Não sentimos que isso vai se espalhar", disse.

França
Na França, os manifestantes atearam fogo em dois carros e em lixo no qual aparentemente havia material inflamável do lado de fora do consulado grego em Bordeaux, na manhã de hoje. Eles também fizeram grafittis em todo o prédio, fazendo ameaças de novos protestos, disse Michel Corfias, cônsul grego no local. "Foi um incêndio muito, muito intenso", disse Corfias, acrescentando que houve sérios danos à porta principal do prédio. Na porta da garagem lia-se "solidariedade com as manifestações na Grécia, a insurreição vai melhorar". A palavra "insurreição" foi implacavelmente escrito nas portas de várias casas da vizinhança.

Confrontos revelam espírito rebelde do povo grego

Da BBC

Jovens por trás de tumultos seguem tradição centenária de rebelião.
Os tumultos que se alastraram pela Grécia nos últimos dias ajudam a explicar por que o mais importante dia no calendário nacional grego é o Oxi, ou dia do Não.

O dia Oxi comemora um evento ocorrido no dia 28 de outubro de 1940, quando o líder grego Ioannis Metaxas usou esta única palavra para responder a um ultimato de Mussolini, que pedia permissão para invadir a Grécia. O Não grego levou a nação à Segunda Guerra Mundial.
Quando os gregos dizem não, são categóricos. A rebeldia está profundamente enraizada no espírito grego.
Os estudantes - adolescentes e crianças - que estão fazendo cercos nas delegacias de polícia e tentando derrubar o governo estão na verdade vivenciando ritos de passagem.
Eles podem pertencer à geração iPod, mas são herdeiros de uma tradição centenária, em que freiras preferiam se atirar do alto dos seus conventos nas montanhas, encontrando morte certa, do que se submeter à devastação trazida pelos invasores turcos otomanos.

Símbolo
O centro da rebelião neste dezembro é a Politécnica de Atenas, onde estudantes vêm saindo às ruas com barris e carrinhos de compra para coletar e reciclar rochas e pedaços de mármore usados nos quebra-quebras da noite anterior.
A Politécnica é o símbolo da rebelião moderna.
No dia 17 de novembro de 1973, tanques da ditadura militar, que havia assumido o poder seis anos antes, esmagaram as cercas de ferro para suprimir um levante estudantil.
Não se sabe até hoje quantos morreram, mas acredita-se que pelo menos 40 pessoas perderam suas vidas no episódio.
O sacrifício da Politécnica foi tão importante que os arquitetos da nova Constituição da Grécia, criada no período posterior à ditadura, incluíram no documento o direito ao asilo, proibindo as autoridades de entrar em escolas e universidades.
É por isso que os lugares reservados ao aprendizado funcionam como estopins da atual onda de violência e isso também explica por que tantos dos tumultos estão acontecendo em cidades universitárias.
Na prática, os estudantes receberam carta branca para continuar protestando, porque seus professores declararam uma greve de três dias.

Desprezo
Embora muitos dos manifestantes de hoje ainda não tivessem nascido quando os portões da politécnica foram esmagados pelos tanques, o sacrifício dos estudantes é um componente essencial dos currículos de democracia de toda criança grega.
O desprezo pela polícia, que é latente na população, e que agora explodiu de forma tão vulcânica, tem suas raízes na ditadura, quando a polícia era vista como agente dos coronéis e traidora do povo.
A morte do adolescente Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, nas mãos de um experiente policial de 37 anos, precipitou uma onda nacional de violência, algo que não se via desde a ditadura.
Se ela vai levar à queda do impopular governo conservador do primeiro-ministro Costas Karamanlis, não está claro. É prematuro ver os tumultos como uma repetição, na Grécia, do levante estudantil parisiense de 1968.
Um dos comentários mais sábios veio de Nikos Konstandaras, editor do Kathimerini, um dos mais sóbrios e respeitáveis jornais do país.
Em um editorial, Konstandaras escreveu que o sangue de Grigoropoulos vai ser "usado para amalgamar todo protesto e reclamação absurdos em uma plataforma de ódio moralista contra todos os males da nossa sociedade".
"(O sangue do adolescente) vai se tornar rapidamente uma bandeira de conveniência para qualquer pessoa que tenha algum ressentimento contra o Estado, o governo, o sistema econômico, poderes estrangeiros, capitalismo e por aí vai", diz o artigo.
"Se a Grécia já parecia difícil de governar, agora vai ficar fora de controle", afirma o editorial.

Contexto
A onda de incidentes em todo o país começou após a morte de Grigoropoulos, um jovem de 15 anos, que foi baleado por um policial depois que um grupo de jovens atacou a pedradas uma patrulha policial.
A indignação com a morte do garoto se soma ao descontentamento com a economia, o que pode ameaçar o impopular governo conservador.
Na quarta-feira, o país deve enfrentar uma greve geral de 24 horas contra as reformas econômicas, e analistas prevêem que os distúrbios, os piores em várias décadas, prossigam, ameaçando a continuidade no governo, cuja maioria no Parlamento é de apenas um deputado.
"Estamos vivendo momentos de uma grande revolução social", disse o ativista Panagiotis Sotiris, de 38 anos, que participava da ocupação de uma universidade. "Os protestos vão durar enquanto forem necessários."

Governo grego não cede a pressões

O Primeiro-Ministro Costas Caramanlis afirmou que os autores da violência serão responsabilizados. "Ninguém tem o direito de usar este trágico incidente como um alibi para acções de violência bruta, para acções contra pessoas inocentes, as suas propriedades e a sociedade como um todo, e contra a democracia", disse Caramanlis.

Numa mensagem dirigida à nação transmitida pela televisão públical, o Primeiro-Ministro conservador, denunciou todos os que tentam aproveitar-se do drama da morte do adolescente. Costas Caramanlis garantiu que "os acontecimentos inevitáveis e perigosos, não serão tolerados", afirmando ainda que o Estado "vai proteger os seus cidadãos. É a melhor homenagem que podemos fazer a Alexis", disse.

O Primeiro-ministro grego, ao contrário do que se esperava, descartou a hipótese de eleições antecipadas e lançou, ainda, um apelo à unidade da nação e do mundo político contra os motins que duram há já vários dias e que se alastraram a várias cidades como Salónica, Creta, Corfu e Rodes.

"Nestas horas cruciais, o mundo político deve unanimente e categoricamente condenar e isolar os autores das destruições. É o nosso dever democrático, é o que exigem os cidadãos, e é o que impõe o nosso dever nacional", afirmou Caramanlis, após um breve encontro com o chefe de Estado, Carolos Papoulias.

Por sua vez, o líder dos oposicionistas Socialistas, George Papandreou disse, "Este país nao tem Governo. Este caos... é resultado das decisões e omissões de um Governo que se tornou um perigo para o povo grego". Refira-se ainda que estas cenas de confrontos devem piorar ainda mais a imagem do pouco popular Governo conservador, abalado por escandalos financeiros e lutando para manter uma estreita maioria de apenas um legislador, no Parlamento de 300 cadeiras.

Grécia vive os piores dias das últimas décadas

Desde sábado (6) diversos protestos e confrontos (veja o vídeo do Público e ouça na TSF a história de dois dias depois) entre a polícia e os manifestantes proliferam por toda a Grécia, desde o Norte ao mar Jónico e Egeu. A cólera desencadeada pela morte de Alexandros Grigoropoulos, de 15 anos, alastrou mesmo a representações diplomáticas em Londres e Berlim. O incidente deu-se no instável distrito de Exarchia, bairro que é um ponto de frequentes confrontos entre ganges e policias que originam, habitualmente, grandes danos materiais em lojas, estabelecimentos e veículos.

Por tudo isto, poder-se-ia dizer que o ambiente que se têm verificado nos últimos dias, não é nada de novo, nem tão pouco, de preocupante. No entanto, trata-se da mais grave agitação a que a Grécia assiste nas últimas décadas e que está a tentar fazer tremer o Governo grego.

Na última vez em que um adolescente foi morto a tiro pela polícia, na Grécia, em 1985, houve semanas de protestos, protestos esses que carregavam a marca dos anarquistas. Os seus representantes, em grande parte jovens, possuem um sentimento contrário ao establishment e ao capitalismo e uma grande animosidade diante da polícia.

As autoridades afirmam que os incidentes têm sido isolados até agora, mas reconhecem a preocupação de que as manifestações gregas possam tornar-se uma desculpa para vários grupos fazerem manifestações contra as turbulências económicas e a falta de oportunidade de emprego.
As circunstâncias da morte do adolescente ainda não estão claras. Os dois polícias envolvidos no incidente argumentam que estavam a ser atacados por um grupo de 30 jovens e que os disparos apenas foram usados como modo de advertência, quando se encontraram com o grupo, minutos antes da morte de Alexis.
Porém, testemunhas deram outra versão dos acontecimentos, alegando que os polícias dispararam inadvertidamente contra os jovens. Os dois polícias foram presos no Domingo (7), um acusado de homicídio voluntário, e outro de cumplicidade.
De acordo com os resultados das análises balísticas agora conhecidos, o jovem foi atingido pelo ricochete de uma bala disparada, e não intencionalmente, como se fazia crer.

Veja a seguir um vídeo com todos os pormenores destes dias fatídicos:


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